Crianças têm vida mais saudável brincando com música
Por Selma Petroni
Especialistas têm apontado a obesidade e o stress infantil como um dos principais problemas sofridos pelas crianças e suas respectivas famílias nos dias de hoje. No entanto, tal diagnóstico tem como causa diversos fatores que vão desde a alimentação incorreta até hábitos inadequados, como o sedentarismo, que tem se mostrado constante em diversos países da Europa, Estados Unidos e, infelizmente, o Brasil.
Ao longo do meu trabalho especializado em musicalização infantil, tenho mantido relacionamento diário com mães preocupadas com a educação de seus filhos em diversas faixas etárias. No geral, estão aflitas com suas crianças que só querem saber de play station, televisão, computadores e aparelhos eletrônicos. Para tudo utilizam o controle remoto. Quando a proposta é jogar um futebol com os amigos são capazes de responder: "então eu preciso de um controle mais avançado para marcar os gols"; ou seja, até para jogar futebol as crianças recorrem ao vídeo game. Nada de exercícios físicos. A agitação comum da idade é extravasada por meio de uma tela de TV e inúmeros botões
A agitação das crianças começa a ser notada quando ainda são bebês. É comum ver pais um pouco perdidos, para não dizer estressados, com seus bebês que, ainda no colo, já dão um imenso trabalho. Ainda recém-nascidos ou com pouco mais de seis meses não sabem fazer silêncio, choram quando não conseguem o brinquedo na hora em que eles querem e não sabem se relacionar com as pessoas e outras crianças.
A meu ver é preciso cuidar da super agitação, da falta de concentração e da falta de socialização ainda nos primeiros meses de vida, com o objetivo de prevenir ou, pelo menos, diminuir a incidência de outros problemas, como os de saúde recorrentes da infância.
A prática de exercícios físicos, como ioga e natação para os bebês, já é conhecida e recomendada. Já para as crianças é imprescindível. Entre os benefícios estão as descargas de energia, que levam a um sono mais tranqüilo, à socialização e ao bem estar físico e mental. No entanto, o que ainda é pouco divulgado, mas que também oferece excelentes resultados, é a musicalização de bebês e crianças.
O envolvimento dos bebês com o universo sonoro começa antes do nascimento, pois na fase intra-uterina o bebê já convive com alguns sons provocados pelo corpo da mãe como o coração batendo, a respiração e a circulação sanguínea. Após o nascimento, o bebê faz interações com diversos sons do cotidiano, como TV, automóveis, voz de pessoas, música, sons de animais; e assim desenvolve seu repertório de comunicação.
Muitos estudos confirmam os benefícios adquiridos com a musicalização na infância, que é aconselhada a partir dos oito meses de idade. Vale destacar Andrzes Janicki, médico polonês especializado em musicoterapia, que realizou experiências nesse campo e concluiu que a música influencia nas funções de numerosos órgãos internos, na função psíquica e na memória.
Em todos os momentos de uma aula de música há espaço para o exercício sensível e cognitivo. Com um trabalho de sonorização de estórias, invenção de composições, brincadeiras, jogos de improvisação, elaboração de arranjos, audições, cantorias, desenhos de partituras, construção de instrumentos, os bebês percebem e entendem os sons e o silêncio; o momento de falar e de ouvir, o que denota respeito e obediência.
Quando os bebês participam da aula de música e têm que trocar os instrumentos, por exemplo, estão aprendendo a dividir; ou quando tocam em conjunto, entendem que cada um tem a sua vez de participar e ser ouvido. Também trabalham com os sentidos da audição, visão e tato e recebem estímulos para aprender a falar mais rápido, sem timidez e com maior vocabulário.
Para as crianças de 3 a 7 anos, por exemplo, desenvolvemos brincadeiras que são produzidas e pensadas de modo a estimular diversas características da personalidade infantil. Fazem parte da aula não só as brincadeiras de roda, mas jogos como a amarelinha com notas musicais, parlendas e construção de instrumentos também. A partir dos 3 anos as crianças já produzem chocalho, reco-reco e ganzá com latas, potes, sementes, tubos e, para isso, é preciso coordenação, criatividade, imaginação, planejamento e sugestão de idéias, que são algumas das diversas características desenvolvidas em aula.
No geral, no sistema de ensino do país, as aulas de música propõem ensaiar as crianças para apresentações do Dia das Mães, Dia dos Pais ou para o Natal, mas isso não explora as capacidades delas. Nas aulas específicas de musicalização infantil, elas aprendem música com as cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de jogo musical que ajude as crianças a criarem um repertório e se comunicarem pelos sons.
É importante lembrar que as aulas trazem a possibilidade de brincar de uma forma mais tradicional e que é fundamental para um crescimento sadio e harmonioso. Não se trata de saudosismo, mas de proporcionar às nossas crianças a possibilidade de viver a sua própria cultura em cada fase da vida
Selma Petroni
Dedica-se aos estudos musicais desde os 07 anos de idade. É bacharel em piano e foi aluna da reconhecida pianista e professora Dinah Mihlaeff, bem como da oboísta Miriam Strambi. Ministrou aulas particulares de piano e concluiu o Curso para Órgão (Metodologia Yamaha). Especializou-se na área de musicalização infantil com cursos de Musicalização para Bebês, Pré-Iniciação Musical e Pré-Teórico. Mais tarde, completou o Curso de Formação para Professores de Musicalização Infantil e participou de diversas oficinas sob orientação da educadora Lilia Rosa, doutoranda em música da UNICAMP.Atualmente coordena e ministra aulas de música para crianças e bebês, em um amplo espaço do Centro Musical RMF, cuja proposta pedagógico-musical apóia-se na metodologia e assessoria musical da educadora Lilia Rosa.